A Argentina está de luto. Um torcedor de 57 anos morreu ontem (6) à noite, depois do confronto com a polícia no lado de fora do Estádio Juan Carmelo Zerilo, em La Plata, onde o jogo entre Gimnasia y Esgrima de La Plata e Boca Juniors foi suspenso.
Mergulhada no país vizinho, a coluna resume agora a triste jornada definida na Argentina como um novo "assassinato" no futebol local.
A briga
Eram 21h32 (de Brasília) no "Bosque" (como o estádio é conhecido), em La Plata, quando o árbitro Hernán Mastrangelo apitou o começo de Gimnasia x Boca, principal jogo da 23ª rodada do Campeonato Argentino. Ambos brigavam pelo título, com cada time tendo só mais quatro jogos para o final da competição. O Boca entrava em campo na segunda colocação (atrás do Atlético Tucumán), enquanto o Gimnasia aparecia em sexto, classificado à Libertadores.
Os jogadores iniciavam a partida, e era possível ver as arquibancadas completamente lotadas no estádio com capacidade oficial de 21.500 pessoas, segundo o Gimnasia.
Até aí, nada de novo no país. O triste eram as explosões, os sons de tiros e o gás lacrimogêneo que vinham de fora.
Era uma feroz briga entre os torcedores e a polícia. De acordo com a estimativa levada ao ar na Rádio Mitre, a mais importante de Buenos Aires, cerca de três mil pessoas tentavam entrar no estádio, que já estava superlotado.
A suspensão
Logo aos 9 minutos do primeiro tempo, o jogo foi suspenso, em meio ao caos nas arquibancadas, nas ruas ao redor do estádio e no próprio gramado, com os atletas tendo dificuldade para respirar por conta do gás lacrimogêneo.
Muitos jogadores logo deixaram o gramado para conferir como estavam os parentes nas tribunas do estádio.
A repressão violenta da polícia desatou a barbárie. "Idosos massacrados, crianças perdidas, um verdadeiro caos", descreve hoje (7) o jornal "La Nación".
"Uma cena que parecia do futebol argentino das décadas passadas voltava a mostrar a pior face do nosso futebol."
Os visitantes estão proibidos oficialmente na Argentina desde 2013. Não era uma briga entre torcedores do Boca e do Gimnasia, e sim entre os fãs do Gimnasia que tentavam entram no estádio, com o ingresso em mãos, e eram impedidos pela polícia que "em vez de controlar, se descontrolou", descreve o jornal "Crónica".
A morte
César "Lolo" Regueiro, de 57 anos, morreu na ambulância. Sofreu uma parada cardíaca enquanto era levado ao Hospital San Martín, meia hora depois da suspensão da partida, por volta das 22h30 (de Brasília).
O jornal "Clarín" de hoje traz que ele jogou futebol nas divisões de base e trabalhava em um setor da prefeitura na cidade de La Plata. Estava com uma filha, que o acompanhou na ambulância e informou a morte do pai nas redes sociais. César era torcedor do Gimnasia.
Ele estava nas ruas ao redor do estádio quando houve a confusão e a correria. Passou mal e foi atendido em meio ao caos, mas não resistiu.
Há três internados em estado grave, informa o canal de TV TyC Sports. A emissora teve um cinegrafista ferido por uma bala de borracha que impactou seu braço.
Os responsáveis
A Polícia Federal Argentina é apontada como a principal causadora pela tragédia, sendo exigida a dar explicações.
Os dirigentes do Gimnasia também. Ontem, na transmissão da Rádio La Red, a versão que circulava é que venderam entre 2.000 e 5.000 ingressos a mais, e que quando lotou o estádio, com quase 25.000 lugares ocupados, simplesmente fecharam as portas sem se preocupar com quem estava fora.
Outros órgãos que precisam dar as explicações pela morte e pela noite de caos em La Plata são a AFA, como entidade responsável pelo futebol no país, e a Aprevide (o Ministério de Segurança de Buenos Aires).
Axel Kicillof, governador da província, Julio Garro, prefeito de La Plata, e Gabriel Pellegrino, presidente do Gimnasia, também recebem fortes críticas.
Na madrugada, ao canal de TV C5N, Pellegrino se defendeu:
"É mentira que vendemos mais entradas que o permitido. Temos a planilha de tudo, todos os documentos. A polícia fechou os portões e agiu da maneira que agiu, não demos ordem nenhuma".
Entenda a briga que matou um torcedor no jogo do Boca ontem em La Plata - UOL Esporte
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